sexta-feira, 18 de novembro de 2011

ARTIGO: O PREÇO DA DERROTA É MUITO CARO PARA QUEM TENTA VENCER A QUALQUER PREÇO!

 Depois de uma recente disputa eleitoral ocorrida em uma entidade sindical dos trabalhadores da alimentação, pensando em tudo que aconteceu do início da campanha eleitoral até o resultado final da apuração, não pude deixar de refletir sobre todos os motivos que nos levam a ter diferenças políticas dentro do movimento sindical, e que são muitos, é bem verdade! E mesmo assim, não encontrei um só motivo que nos faça esquecer quem nós somos, e o que fazemos enquanto dirigentes sindicais, que justifique todos os atos praticados na eleição.
Desde o início da minha militância sindical e política, sempre acreditei que a divergência de idéias é salutar, que só através do debate, por mais acalorado que possa ser, somos capazes de repensarmos nossas idéias ou reafirmarmos nossas convicções.
Por tanto, nunca me omiti de fazer a disputa, pois ela faz parte da vida política, mas desde que ela tenha o objetivo de buscar aquilo que é melhor para os trabalhadores a quem represento, pois foi com isso que me comprometi ao abraçar a causa sindical.
 É bem verdade que, para todos nós agentes políticos, por mais consciência de classe que tenhamos, é muito difícil que o nosso lado pessoal não fale mais alto algumas vezes, e nos faça acreditar sermos melhores ou termos mais capacidade de representarmos os trabalhadores que outro companheiro, principalmente se ele pensa diferentemente de nós e, por isso mesmo, busca outro caminho, ainda que seja para atingir os mesmos objetivos que os nossos. A autoconfiança é uma qualidade inata a todo verdadeiro líder, e por tanto, louvável, quando não confundida com arrogância ou pretensão.
Negar, por mais políticos que sejam os motivos que nos levem a uma disputa eleitoral, que sempre haverá um componente pessoal envolvido no embate seria hipocrisia, e entendo que, se não houvessem interesses pessoais envolvidos na disputa, não haveria motivos para disputarmos diretamente. Caberia-nos apenas, quando muito, o papel de apoiadores, já que a decisão de disputar é e sempre será pessoal. O que não podemos esquecer nunca é que o foco principal da disputa é político, é atender o interesse coletivo, nunca o pessoal.
Pois quando só o componente pessoal é tudo o que nos leva a disputar, perdemos o foco e acabamos esquecendo quem somos e o que fazemos. Quando se busca uma vitória pessoal a qualquer preço, o coletivo sempre perde e paga um preço muito caro por isso.
É claro que no calor de uma disputa, todos podem cometer erros, e os cometemos principalmente quando esquecemos pelo que disputamos, por mais altruístas que sejam nossos motivos. Porque, da mesma forma que é compreensível que ninguém entre em uma disputa para perder, usar isso como desculpa para querer ganhar a qualquer preço é incompreensível.
Buscar, por exemplo, a intervenção do estado em uma eleição sindical é esquecer toda luta do movimento por independência e autonomia e que custou a vida de muitos companheiros. Que sindicalista pode dizer que ganharia com isso?
Fazer uma campanha baseada em materiais apócrifos, com acusações que denigrem a imagem de alguém, e mais, intitulando-se “Ficha Limpa”, além de criminoso é irresponsável; É esquecer, em primeiro lugar, que como dirigentes sindicais, se sabemos de algum crime contra o interesse dos trabalhadores e podemos provar, nosso dever é denunciar as autoridades, ou seremos coniventes e tão criminosos como aqueles que cometeram os crimes; E segundo, se dirigentes sindicais se denominam como “Fichas Limpas”, é porque existem dirigentes “Fichas Sujas”, por tanto, fazer uma campanha dessa natureza, sem apontar quem são os “Fichas Sujas” é jogar todo o movimento sindical na vala comum; Por quê os trabalhadores deveriam confiar em tais dirigentes, se nem mesmo eles apresentaram provas se são mesmo “fichas limpas” e nem quem são os “fichas sujas”? Destruir a credibilidade de dirigentes sindicais e da própria entidade faz algum sentido? Faz de algum dirigente um vencedor, ou da própria classe trabalhadora a grande perdedora?
Tenho certeza que a maioria dos dirigentes sindicais, muitos dos quais conheço de longos anos, são contra esse tipo de prática. Por isso mesmo é difícil entender por que a maioria acaba sendo convencida por poucos, aceitando e participando de coisas como essas que depõe contra tudo o que eles mesmos são e pelo que têm lutado, alguns uma vida toda?
Assim como eu, gostaria que todos os dirigentes refletissem sobre o nosso papel, sobre aquilo que nos trouxe e nos mantém no movimento sindical.
Não somos anjos, nenhum dirigente sindical o é. Problemas de natureza pessoal sempre existirão e fazem parte da vida, afinal não podemos ter a pretensão de agradar a todos. Mas existe um limite pra tudo e nenhum de nós, anjos ou não, ignora isso.
Espero, sinceramente, que no futuro todos nós possamos seguir lutando em benefício da classe trabalhadora de maneira ética e limpa. Quando as idéias convergirem, do mesmo lado! Se não for possível, que façamos a disputa, sem esquecermos que seremos adversários, jamais inimigos. E ainda assim, que mesmo entre inimigos pode e deve haver respeito.
Porque o que ficará para a história do movimento sindical será sempre a grandeza das nossas lutas e das nossas atitudes, nunca a pequenez das nossas vitórias pessoais.

Darci Pires da Rocha - Vice-Presidente do STICAP - 

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