quarta-feira, 16 de maio de 2012

SINDICALISMO, ESTRUTURA E IMPOSTO!


(*) Darci Pires da Rocha
 Temos visto, com bastante frequência, grandes veículos de comunicação (rádios, jornais, TVs, revistas e sites) dedicar extensas matérias sobre a necessidade de mudança do sindicalismo, com ênfase especial ao movimento sindical representativo da classe trabalhadora, onde velhas e conhecidas “lideranças” do sindicalismo do pensamento único, usam velhos argumentos tão surrados quanto vazios, anos a fio, para fazerem eco ao interesse do capital em acabar com o movimento sindical dos trabalhadores.
Toda essa cantilena sobre as mazelas do sindicalismo, sobre as mudanças do mundo do trabalho e sobre o fim do imposto sindical atende ao um mesmo interesse, embora os objetivos sejam diferentes. Para o capital, acabar com a atual organização da classe trabalhadora tem o objetivo de reformar a legislação trabalhista sem qualquer oposição e retirar direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo de muitos anos e à custa de muita luta e de muitas vidas, o que tem sido difícil dado a grande resistência demonstrada pela organização dos trabalhadores, ainda que os capitalistas jurem que ela está superada. Já para o grupo de sindicalistas que defende o fim da atual estrutura sindical, o objetivo é recriar uma nova organização sindical atrelada a um comando central nacional, cujas bases sejam meras homologadoras das decisões da cúpula e executoras de tarefas, ou seja, o chamado sindicato de base nacional ou “sindicatão”, e que não vingou até hoje graças à autonomia financeira garantida pelo imposto sindical, que tem permitido a Confederações, Federações e Sindicatos agirem com independência, sem precisar de favores para manter suas estruturas e suas decisões.
Não estou afirmando que o movimento sindical trabalhista brasileiro seja perfeito, longe disso, mas seus problemas são comuns a quaisquer organizações brasileiras, sejam elas públicas ou privadas, se não vejamos alguns dos argumentos usados para justificar o fim da atual estrutura sindical:
1 – È antiga – A estrutura sindical trabalhista possui os mesmos moldes da estrutura política brasileira, ou seja, é confederada, federada e local, sendo que a estrutura política brasileira é bem mais antiga que a sindical e não me consta que a mídia, ou qualquer outra organização, faça tanta “pressão” para muda-la;
2 – O mundo do trabalho mudou – Mudou mesmo? Desde quando? Deixou de existir duas classes distintas? A escravidão, o assédio moral, o assédio sexual, a discriminação, o trabalho infantil, em fim, a exploração da classe trabalhadora não existe mais, ou ainda hoje, em pleno século XXI vemos as mesmas coisas tão comuns a séculos passados? Tudo bem que o patrão se tornou mais refinado e que os meios de produção tornaram-se sofisticados, mas ainda possuem os mesmos objetivos de acumularem riquezas a custa da pobreza e da saúde da classe trabalhadora;
3 – O imposto sindical sustenta entidades de fachada – De fato existem entidades de fachada financiadas pelos trabalhadores, já que o imposto sindical é pago pelos trabalhadores e não por patrão ou por governo nenhum, é bom que se diga isso. O que nunca é dito pela mídia ou pelos que defendem as ditas “mudanças” é que essas entidades de fachada, felizmente, não são a maioria, e nem “privilégio” das organizações sindicais de trabalhadores, porque o que não falta é muita gente e muita “coisa” de fachada no Brasil, e sendo sustentada pelo dinheiro público, mas parece que isso não é tão relevante assim para mídia e para os que acham que o sindicalismo é o único responsável pelos problemas do Brasil.
A verdade é que, se houvesse real interesse desse tipo de debate em resolver e melhorar a atual estrutura sindical e não o de favorecer o interesse do capital ou de querer controlar a vontade da classe trabalhadora, a primeira coisa a ser discutida é: O movimento sindical é importante para os trabalhadores? Se for, como de fato o é, ele precisa ter uma estrutura! Se aqueles que defendem as mudanças podem apresentar um exemplo concreto de alguma estrutura sindical melhor e mais eficiente para a defesa dos interesses da classe trabalhadora que apresente, mas sem essa conversa fiada que todo mundo está cansado de ouvir, nos debates sobre o tema, que “Não existe um modelo pronto” ou “Que isso está em permanente construção” etc, etc, etc,! Papo furado! Que só demonstra a irresponsabilidade de quem quer atirar o movimento sindical em uma aventura da qual nem mesmo quem propõe a mudança sabe como acabará!
Segundo, se o movimento sindical é importante para os trabalhadores, ele deve ser financiado pelos trabalhadores mesmo, ou há quem defenda que seja financiado pelo patrão ou pelo Governo? O imposto sindical é uma regra clara, concreta e que vale para todos, o que, dentre outras coisas, impede a prática anti-sindical, garantindo que nenhum trabalhador seja pressionado a não contribuir com sua entidade, que permite a organização sindical ter um planejamento com garantia que não haverá mudanças no mês seguinte e que ainda permite um mínimo de controle social, pois afinal, trabalhadores, governo e patrões, pelas regras atuais, tem noção do valor arrecadado e tem certeza de quem financia isso. Se houver as mudanças pretendidas, com as regras subjetivas que estão sendo propostas, como a dita representatividade, que determinaria quem recebe mais ou menos de uma taxa negocial que ninguém explica como será auferida e quem determinará quem seja mais ou menos representativo, com uma arrecadação que será paga por quem quiser, quando quiser e com quanto quiser, sem que isso passe por um sistema de arrecadação controlável e confiável, certamente não teremos apenas entidades de fachada, mas também entidades de aluguel o que escancararia as portas para a corrupção no meio sindical.
Aqueles que, realmente, querem melhorar as entidades sindicais para que elas sejam cada vez mais representativas e atuantes na defesa dos interesses da classe trabalhadora, devem trabalhar para que sindicatos, federações e confederações tenham independência financeira e autonomia política frente a governos ou quaisquer outras entidades, especialmente as entidades de base são fundamentais que tenham essa autonomia, pois é a vontade das bases, representada e defendida pela cúpula que garante a verdadeira democracia, o inverso é ditadura! Devem lutar para que todos os trabalhadores, indistintamente, dentro das suas categorias, tenham direito a voto nas eleições sindicais, por um sistema eleitoral seguro e democrático, com regras claras e que não permita a fraude em listas de votação e acesso ao voto só a quem for conveniente e quando for conveniente. Devem lutar por órgãos de ética atuantes e trabalhar pela verdadeira unidade da classe trabalhadora, que é a unidade de luta e de ação, nunca a de pensamento como querem alguns, e que por isso mesmo, não será obtida pelo fracionamento das entidades ou pelo jogo de beleza de uma disputa irracional de ver quem é mais ou menos representativo.
A verdadeira unidade só será conquistada com respeito às diferenças e as divergências, e isso não dependem da unicidade ou da pluralidade e sim de consciência política, afinal, o fato de vigorar a unicidade na estrutura sindical brasileira não impede que sejamos plurais e democráticos, assim como se a pluralidade fosse implantada não garantiria a extinção do “democratismo” e do “pensamento único”, implantados com mão de ferro em muitas entidades que até se dizem plurais e combativas, mas na verdade não passam de um triste exemplo de uma ferramenta de luta da classe trabalhadora a serviço de governos e de interesses políticos particulares.
O pior é que aqueles que defendem as mudanças no sindicalismo brasileiro defendem para o outro aquilo que não querem para si mesmos. Perguntem aos partidos políticos se viveriam apenas da arrecadação que recebem de seus filiados. Pergunte aos órgãos de classe se defendem a pluralidade, ou seja, que advogados, médicos, engenheiros, etc possam escolher livremente que entidades devam lhes representar. Perguntem as empresas de mídia se elas viveriam sem o dinheiro público que entra a título de propaganda, ou o porquê, quando se trata da mídia, que o veículo de comunicação nunca explica quanto ganhou para fazer o marketing público, se foi feita alguma licitação etc.
É o famoso “Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”!
(*) Coordenador político da sala de apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação da Região Sul e Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Pelotas.

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