Trabalhadores
de frigoríficos pedem pausas para descanso
Comissão
tripartite discute nesta quinta e sexta, a inclusão dos intervalos de descanso
na criação da norma que irá regulamentar o setor
Com
mercado em expansão após fusão da Sadia e da Perdigão (agora BR Foods),
trabalhadores do setor frigorífico ainda aguardam a regulamentação das
atividades no país. Nesta quinta e sexta (dias 19 e 20 de julho), o governo irá
dar continuidade à criação da Norma Regulamentadora dos Frigoríficos junto às
empresas e aos trabalhadores, a partir das 9h, no Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE). Desta vez, entra em pauta as pausas obrigatórias para descanso,
uma das principais reivindicações da categoria, que prevê a redução dos
acidentes e doenças de trabalho. Serão beneficiados aproximadamente meio milhão
de trabalhadores e a previsão é que a norma entre em vigor até outubro deste
ano.
Consciente
da realidade vivida nos frigoríficos, Carlúcio Gomes da Rocha representa os
trabalhadores na Comissão Tripartite de Trabalho. Após sofrer na pele as
consequências das atividades penosas no setor, ele afirma que a possibilidade
de descanso irá contribuir para reduzir grande parte dos acidentes de trabalho.
De 2008 a 2010, foram registrados mais de 61 mil acidentes no setor, segundo
dados da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) fornecidos pelo
pesquisador Paulo Rogério Oliveira, coordenador-geral de Politicas de Combate a
Acidentes de Trabalho do Ministério da Previdência Social.
"Posso
dizer que o que vai resolver a questão dos acidentes nos frigoríficos são as
pausas de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados. E isso é o que defendemos e
não iremos mudar porque não se trata de um pedido qualquer, mas da afirmação
profissional de peritos médicos, além de alguém que viveu por 35 anos essa
experiência", afirma Carlúcio, afastado diversas vezes para tratar
inflamações nos ombros conhecidas como bursite.
No
entanto, Carlúcio prevê dificuldades na atual negociação, que integra a quinta
discussão desde o início da criação da norma, em maio de 2011. Segundo o
ex-trabalhador de 64 anos, a principal alegação das empresas é a possibilidade
de prejuízos no faturamento com a concessão de períodos de descanso. Enquanto
continuam expostos as condições insalubres de trabalho, com temperaturas frias
e jornadas excessivas, Carlúcio alerta o afastamento de trabalhadores que
contraem infecções ou doenças comuns do setor como tendinite e Lesões por Esforço Repetitivo (LER).
"Os
empresários estão conscientes de que precisam mudar, mas afirmam que é
impossível manter um frigorífico com essas condições, por elevar alguns custos
na produção. Este é um setor que exige funções e esforços altamente repetitivos
que geram graves problemas de saúde, então, se não for para defender a saúde do
trabalhador, não iremos aceitar, pois a saúde do trabalhador não tem preço e
quem paga depois é a sociedade, com tanto trabalhador doente afastado pela Previdência",
explica.
Para
Artur Bueno, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias
de Alimentação e Afins (CNTA), a necessidade da conclusão da NR dos
Frigoríficos é urgente, principalmente, para abraçar as novas empresas que
podem surgir no mercado após a fusão da Sadia e da Perdigão, que tiveram de
abrir mão de algumas marcas há três anos. "Dificultar a viabilização dessa
NR é um absurdo e até uma falta de consideração para com os trabalhadores.
Pensar em prejuízos no momento não procede, pois se o trabalhador tiver mais
saúde para trabalhar, ele vai ter uma vida útil mais longa e, com isto, a
empresa vai ter sempre um profissional treinado sem a necessidade de
substituição como acontece atualmente com a alta rotatividade no setor",
avalia.
Por: Clarice Gulyas
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