A POSIÇÃO DA CUT É UMA DECEPÇÃO, NÃO
UMA SURPRESA!
(*) Darci Pires da Rocha
Como cutista e ex-diretor da Central Única dos Trabalhadores
no Rio Grande do Sul, não é surpresa nenhuma ver que o grupo majoritário da CUT
assume agora que é a favor de que o negociado prevaleça sobre o legislado,
sempre foram e isso eu cansei de denunciar ao movimento sindical há muitos
anos, mas decepciona que eles tenham conseguido que essa grande ferramenta de
luta e resistência da classe trabalhadora, apesar dos esforços de tantos bons
companheiros, seja hoje refém de governos e apoie políticas neoliberais.
Sempre respeitei opiniões contrárias as minhas, aqueles que
me conhecem dentro do movimento sindical sabem que sempre fui firme, às vezes
até duro na defesa de minhas ideias e convicções, mas nunca deixei de ouvir,
admirar e respeitar principalmente, quem defendia um ponto de vista com
convicção, sem subterfúgio ou mentiras, por mais que eu achasse que estava
errado, porque sempre acreditei que quando temos um mesmo objetivo, podemos
divergir da maneira como chegar lá, mas certamente o fazíamos por querer o
melhor para os trabalhadores.
Inúmeras vezes os companheiros, principalmente do ramo da
alimentação, me ouviram afirmar que o grupo majoritário da CUT trabalhava para
quebrar a unicidade sindical (reforma sindical), para que o negociado
prevalecesse sobre o legislado (reforma trabalhista), porque isso é fundamental
para a criação do “sindicatão”, ou
seja, o sindicato nacional, onde uma cúpula passaria a controlar toda a classe
trabalhadora, substituindo as estruturas de 3º Grau, que passariam a não mais
existir (confederações) e transformando as estruturas de 2º e 1º graus
(Federações e sindicatos) em meros cumpridores de tarefas e homologadores das decisões
de uma “poderosa” direção nacional.
Justiça seja feita, quanto à reforma sindical com a quebra da
unicidade eles nunca negaram, sempre disseram que eram a favor por ser uma
bandeira da CUT desde a sua fundação, mesmo sabendo que a grande maioria do
movimento sindical é contra, e os inúmeros fóruns de consulta promovidos pelo
Fórum Nacional do Trabalho ou pelo Fórum Sindical do Trabalhador sempre apontaram
isso. Já a reforma trabalhista com a flexibilização da CLT e a prevalência do
negociado sobre o legislado eles sempre negaram veementemente, sempre disseram
que isso era uma mentira de quem tentava confundir os trabalhadores.
E olha que provas nunca faltaram da real intenção deles, no
ramo da alimentação então isso é muito claro! Afinal foram pessoas ligadas a
esse grupo majoritário quem defenderam para que fosse assinado o primeiro
acordo de banco de horas no Rio Grande do Sul, por exemplo, sob a alegação que
isso era “moderno”, que na Europa era bom, etc; foram pessoas ligadas a esse
grupo que queriam flexibilizar direitos dos trabalhadores por conta da “gripe
aviária” que nunca chegou ao Brasil; foram pessoas ligadas a esse grupo que
assinaram acordos reduzindo o intervalo de almoço dos trabalhadores de 1 hora
para 40 minutos para atender o interesse de uma empresa, por tanto, posições neoliberais
nunca foram novidades para esse grupo, se iludiu quem quis.
Agora, como eles tem maioria esmagadora dentro da central, que
só não é total pela brava e valorosa resistência de poucos, eles já falam
abertamente que são sim, a favor da flexibilização, que não tem nada demais o
negociado prevalecer sobre o legislado, que é admissível se fracionar férias,
etc, etc, exatamente como a FIESP, a CNI e toda classe patronal sempre falou, e
está aí o projeto de flexibilização da CLT apoiado pelo governo Dilma, com
total aval dessa gente para não deixar dúvidas, cujo link da matéria publicada e não desmentida é (http://blogs.estadao.com.br/jt-seu-bolso/projeto-preve-acordo-coletivo-por-empresa/)
para quem quiser conferir sobre
as verdadeiras intenções desse grupo. Será que ainda vão ter companheiros que
não enxergam isso?
É claro que eles ainda podem negar que querem controlar a
classe trabalhadora e não admitirem que o objetivo deles é sim o sindicatão!, Mas
várias medidas que estão em curso falam por si só, se iluda quem quiser! Posso
citar a taxa negocial como exemplo. Como alguém acha que será medida a “tal
representatividade”? Se eles conseguirem acabar com o imposto sindical, alguém
acha que quem não se submeter à vontade deles verá mesmo um centavo pra sua
entidade? E assim nós poderíamos falar sobre todas as medidas absurdas tomadas
através do MTE, do MPT, sem esquecer que “figuras” como Osvaldo Bargas, Berzoine
e etc, mentores das piores coisas para o movimento sindical e para os
trabalhadores sempre foram ligados a esse mesmo grupo.
É o tipo da coisa que caberia uma placa, como é comum nos
estádios de futebol hoje em dia, do tipo “Eu já sabia”, mas assim como eu,
muitos companheiros sempre souberam e lutaram para não ver a CUT enveredar por
esse caminho. Desses, inúmeros desistiram e foram lutar em outras trincheiras,
os poucos que permanecem, lutam tentando desesperadamente mostrar que a CUT não
pode ser reduzida a isso, submissa a interesses empresariais e a vontade de
governos. Mas todos nós, aqueles que estiveram e aqueles que estão na Central
Única dos Trabalhadores temos em comum o sentimento de decepção e tristeza,
porque em casos como esse, “Eu já sabia!” não é o tipo da coisa que alegra a
ninguém!
(*) Vice Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias da Alimentação de Pelotas e Coordenador político da sala de apoio da
Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins
para a região Sul.
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