As medidas anunciadas pelo governo com pompa e circunstância pela grande mídia, do pacote de “ajuda” aos empresários nacionais é uma afronta à classe trabalhadora.
Não vou me ater a todos os pontos do pacote, mas no geral, atrevo-me a dizer que o que já é ruim pode ser ainda muito pior do que qualquer um supõe, porque esse gigantesco aporte de recursos públicos, que o governo estima em 60 bilhões de reais, pode ter sido concedido sem que qualquer contrapartida social tenha sido exigida das empresas, ou seja, nem garantia de geração de empregos, nem de queda nos preços dos produtos, absolutamente nada. Tomara que eu esteja errado quanto a isso!
O argumento patronal da desindustrialização, da crise, da falta de competitividade e que tudo isso poderia provocar o fechamento de postos de trabalho é uma balela, mas tão bem ensaiada com o governo e com a mídia, que não vai faltar quem defenda sem perceber que o Governo está fazendo “cumprimento com o chapéu alheio”, ou seja, usando os cofres públicos para ser “generoso”, e não faltarão empresários para afirmar que ainda foi pouco. O que eu duvido é que alguém pergunte por que essa generosidade é sempre com os empresários e nunca com os trabalhadores?
Aliás, será por isso que, coincidentemente, no dia seguinte ao anuncio do “pacote”, a CNI – Confederação Nacional das Indústrias divulgou uma pesquisa em que a popularidade da Dilma subiu? Pelo visto, ser generoso com empresário da IBOPE!
Mas ainda se fosse mesmo para garantia de empregos, menos mal, só que isso não é verdade. Na prática o movimento sindical sabe, e não faltam exemplos nas indústrias da alimentação, que quando um ramo empresarial tem problemas, recorre aos cofres públicos para se fortalecer, argumentando que não quer desempregar. Mas e quando ele fica forte? Bom, aí investe em tecnologia de ponta, concentra produção, fecha fábrica, desemprega milhares de trabalhadores sem o mínimo pudor, e o que é pior, com o lucro obtido à custa do dinheiro público. E são os mesmos empresários que sempre afirmaram serem contra a intervenção do governo na economia! Acreditem se quiser!
Tudo isso é um absurdo, ainda mais porque nunca conheci um trabalhador com problemas financeiros que tivesse suas dívidas perdoadas, recebesse dinheiro a fundo perdido ou fosse isento de pagar impostos por governo nenhum! Mas a questão da isenção de empresas dos tributos previdenciários é, simplesmente, revoltante!
Revoltante porque em todos esses anos como trabalhador de carteira assinada e de militância sindical, tenho visto serem exigidos os maiores sacrifícios de todos os trabalhadores, especialmente dos aposentados, sob o argumento de termos uma previdência social deficitária que não suportaria nem sequer o salário mínimo constitucional, quanto mais pagar uma aposentadoria decente.
Mas, o mesmo Governo que em nome do “enorme déficit” da previdência, vetou o fim do fator previdenciário, que tira de 20 à 30% do valor das aposentadorias, o mesmo governo que por conta do “suposto” rombo financeiro da previdência, negligencia atendimento a trabalhadores acidentados e adoecidos, inclusive que criou a alta programada, que devolve os trabalhadores ao setor produtivo sem a mínima condição de trabalho e sem respeitar o tempo de recuperação de cada indivíduo, é o mesmo governo que abriu mão de 20% da contribuição previdenciária patronal.
Agora eu pergunto, trabalhadores e aposentados foram ludibriados esses anos todos ou será que existe outra previdência com os cofres abarrotados que ninguém conhece?
Será que o governo vai rever os graves erros cometidos contra os trabalhadores na previdência, ou vai continuar sendo condenado na justiça a corrigir benefícios e aposentadorias e alegando que não tem dinheiro?
Em outros tempos, o mínimo que o movimento sindical faria, seria exigir do governo o fim do fator previdenciário, a revisão imediata de todas as aposentadorias e o cumprimento do salário mínimo constitucional, ou deflagraria uma greve geral. Mas parece que agora as prioridades são outras, pelo menos para algumas correntes sindicais, o negócio é plebiscito, é discutir quem é mais ou menos combativo, é mudar a estrutura sindical, flexibilizar a legislação trabalhista, e tudo isso pra ficar “moderno” e não atrapalhar o empresariado de ganhar mais dinheiro.
A verdade é que essas medidas deixam claro que esse governo tem lado, e não é o dos trabalhadores, com certeza!
(*) Vice-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Pelotas e coordenador político da sala de apoio da CNTA aos sindicatos da alimentação da região sul.
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