quinta-feira, 21 de agosto de 2014

FECHAMENTO DA UNIDADE INDUSTRIAL FRIGORÍFICA DE ALEGRETE PELA MARFRIG!

Para quem quer ver a verdade, basta um "EXAME"!

Artigo por:  Darci Pires da Rocha(*)

Não que surpreenda a decisão do fechamento da planta industrial frigorífica de Alegrete, afinal a Marfrig não é a primeira e nem será a última empresa que não terá o mínimo escrúpulo em sacrificar centenas de trabalhadores, seus familiares além de causar um prejuízo incalculável para toda a economia de uma região, desde que isso garanta lucro para si e seus acionistas.
Tão pouco surpreende e, para dizer a verdade, chega ser até cansativo, a ladainha empresarial com as mesmas desculpas esfarrapadas de problemas logísticos, sazonais, falta de mão de obra, otimização de operações, problemas mercadológicos, etc, etc, etc. 
Surpresa seria saber que, alguém da direção da empresa ou algum de seus acionistas, realmente, acredita que esse tipo de argumento possa ainda convencer os trabalhadores e a opinião pública de que os problemas da empresa sejam produzidos por outros motivos que não advindos de gestões tão temerárias quanto amadoras, que são facilmente identificadas por algumas características bastante comuns, como a pouca habilidade política para cativar parcerias fundamentais como os produtores, por exemplo, ou a busca de soluções "simplistas" para um problema tão complexo quanto o encerramento da atividade industrial da maior empresa de uma cidade, prejudicando assim uma das principais atividades econômicas da região, uma vez que, neste caso, o frigorífico de Alegrete encontra-se instalado na fronteira oeste gaúcha, cuja atividade econômica dividi-se entre a agricultura e a pecuária de corte.
Mas se alguém, ingenuamente, possa ter dúvida entre a real necessidade da Marfrig de fechar a unidade industrial por uma questão de sobrevivência ou se o fechamento é fruto, pura e simplesmente, de uma decisão administrativa unilateral, que busca na solução fácil, encobrir sua preguiça ou sua falta de talento para encontrar uma saída coletiva, vejam a matéria produzida pelo site Exame.com, ligado a conhecida revista do mesmo nome da editora Abril, publicada no dia de ontem (20/08/2014), sob o título "Marfrig tem recorde de abates de bovinos em julho", cujo conteúdo completo poderá ser encontrado no link que estamos disponibilizando aqui no blog: (EXAME).
Diante do conteúdo da matéria, da qual não teríamos porque duvidar de uma única vírgula salvo se a empresa vier a público desmentir a publicação, fica claro que os motivos para o fechamento da planta industrial de Alegrete são muito diversos daqueles que foram apresentados pela empresa.

A planta frigorífica de Alegrete é certificada a exportação para os principais mercados que importam carne brasileira, possui mão de obra altamente qualificada, esta assentada em uma região que possui o maior rebanho de gado de corte do Rio Grande do Sul, conta com infraestrutura e condições logísticas tão boas ou melhores que todas as plantas exportadoras do estado e do país, incentivos fiscais e aporte de recursos públicos extremamente significativos, agora eu pergunto, onde está o problema de fato?
Se a questão está nas exigências ambientais requeridas pela FEPAM - Fundação Estadual de Proteção Ambiental, pela falta de visão estratégica da empresa de investir em um problema que desde 2010, quando a Marfrig arrendou a planta, sabia que teria de resolver; Se a questão está na pouca sensibilidade que os administradores tiveram para serem parceiros dos produtores rurais em um momento mais favorável economicamente e agora se queixam da recíproca; Se a questão está na dificuldade da Marfrig em dialogar com o conjunto da sociedade, certamente pedir a colaboração coletiva dos trabalhadores, do poder público e da comunidade em geral teria um efeito positivo, ao contrário das alegações estapafúrdias que só depõem contra a qualificação de quem administra um empreendimento desse vulto, prejudicando sensivelmente a imagem da empresa, o que acredito, deve causar muita apreensão a seus acionistas.
Nestas situações em que a "força do argumento" se mostra nula, é comum as empresas recorrerem ao "argumento da força", invocando sua condição de "empresa privada" que pode dispor ou tomar as decisões que mais lhes convier, e que a essas só cabem discussões internas, de seus dirigentes e seus acionistas.
Podem acreditar, não serão os trabalhadores a discordar no direito de qualquer empresa ou empresário em dispor, como bem lhe aprouver, de seus bens e seu capital "próprio"! 
Porém nos permitimos discordar todas as vezes, e não são poucas, em que os empresários se equivocam decidindo privadamente aquilo que é do interesse público e que conta com patrimônio e capital de todos, como no caso da Marfrig, ainda mais no que diz respeito a planta industrial frigorífica de Alegrete, que o grupo detém apenas por questão de arrendamento; pois a Marfrig é uma das empresas que possui um dos maiores aportes de dinheiro público, tanto pela esfera federal através do BNDES, como pela esfera estadual através de programas de renúncias fiscais, com o compromisso de geração de emprego e renda, compromisso esse que ela desrespeita ao tomar a decisão de fechar uma unidade industrial e extinguir 700 postos de trabalho diretos.
Tenho certeza que qualquer empresário do ramo de transporte público, por exemplo, adoraria atender apenas as linhas que lhes são convenientes, assim como quem toma dinheiro público emprestado e assume compromisso social com ele, gostaria de empregar esse dinheiro da maneira que lhe for mais conveniente e com regras feitas pela própria empresa. Isso até acontece inúmeras vezes, principalmente quando a situação não conta com a fiscalização da sociedade civil organizada e de um movimento sindical atuante. Mas em Alegrete, que tem um sindicato forte e no Brasil, no ramo da alimentação onde a CNTA atua com firmeza, este não é o caso. E de mais a mais, a Marfrig pediu dinheiro público emprestado por que quis e vai responder pelo uso dele, gostando ou não.
De toda forma, os responsáveis pela administração da empresa ainda podem ter um gesto de grandeza, reconhecendo o erro da decisão tomada, e chamar o coletivo para colaborar na busca da solução dos problemas.
Garanto que nada irá se resolver com soluções impostas de maneira unilateral, prejudicando a muitos pela comodidade de poucos, ainda mais porque o problema, se é que ele existe, e que foi potencializado pela própria empresa, tem a característica de atrair toda sorte de aproveitadores, que vão de políticos oportunistas a falsas lideranças, que no afã da fama instantânea que a foto feita nos momentos difíceis alheios costuma trazer, propõe as soluções mais esdrúxulas possíveis e acabam tumultuando o processo e dificultando a visão das soluções adequadas!
Estarei torcendo para que a Marfrig reflita e que o bom senso prevaleça, para que aqueles que nada fizeram de errado, não paguem pela ganância e nem pela irresponsabilidade alheia.

(*) Darci Pires da Rocha é Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Pelotas e Coordenador político da sala de apoio da CNTA para os sindicatos de trabalhadores da região sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário