terça-feira, 28 de maio de 2013

MARFRIG-SEARA!


UM CASO NEBULOSO QUE PRECISA SER ESCLARECIDO!

(*) DARCI PIRES DA ROCHA


Diante dos fatos acontecidos em Caxias do Sul, com o fechamento da unidade da Marfrig-SEARA e a demissão de mais de 500 trabalhadores, chegou a hora dos trabalhadores e da sociedade exigirem providências das autoridades, uma vez que está claro que esse descalabro é fruto de estratégia empresarial, apoiada por uma política governamental a nível federal.
Através do BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento, o governo tem financiado deliberadamente o fechamento de unidades fabris produtivas e a conseqüente extinção de postos de trabalho, contando com a autorização do CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que tem assistido passivamente a monopolização de vários setores da economia, uma vez que o caso SEARA é fato  recorrente, já que, só com a Marfrig, o mesmo ocorreu em Roca Sales e só não aconteceu em Bom Retiro do Sul, graças a resistência dos trabalhadores e do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Estrela, e tudo isso, curiosamente beneficiando um grande grupo do setor de frangos (BRF - Brasil Foods), também financiado pelo BNDES, já que a SEARA é uma concorrente que está sendo retirada do mercado. E que ninguém diga que a fábrica fecha mas a marca fica, porque isso ofenderia a inteligência dos trabalhadores
Não é de hoje que a sociedade brasileira convive com notícias de financiamento público na criação de grandes conglomerados empresariais, sejam por fusões, incorporações, aquisições, etc, sem saber que justificativas ou mesmo que benefícios levam gestores públicos a investir o dinheiro de todos em algo particular, cujos lucros são repartidos apenas com sócios, acionistas e proprietários, nunca com o povo.
A falácia da geração de emprego e renda já não se sustenta mais, uma vez que todas as "mega empresas" criadas nesses processos podem até ter gerado mais impostos (mas não convém afirmar dada as renúncias fiscais), mas emprego e renda? Definitivamente não! Ao contrário, todas as experiências até agora ( AMBEV, BRF, GOL, etc) reduziram o número de postos de trabalho, com fechamento de fábricas e concentração de produção. Se alguma coisa aumentou, e muito, foi o ritmo de trabalho dos que conseguiram manter seus empregos.
Isso é muito ruim no ponto de vista social, e sou absolutamente contra investimento público nestes casos, mas financeiramente pelo menos, tudo indica que os exemplos acima citados são sinônimos de investimentos lucrativos, o que"em tese", deverá garantir a recuperação do dinheiro público investido. Mas existem casos em que, nem "em tese", isso é garantido!
O exemplo "Marfrig" no Rio Grande do Sul é clássico. Em que se justifica tanto dinheiro público investido através do BNDES? Geração de emprego e renda? De forma nenhuma, afinal nos empreendimentos frigoríficos de carne bovina, ele assumiu plantas que já geravam empregos, advindas da empresa Mercosul! E nem adianta argumentarem que o Marfrig assumiu pelas dificuldades financeiras do Mercosul, pois se a antiga empresa tivesse recebido metade do investimento que o BNDES colocou na Marfrig teria todas as condições de se manter no mercado.
Se nos frigoríficos bovinos, onde a empresa está sempre alegando prejuízos para justificar demissões, o investimento público já é, no mínimo, incompreensivo, o que dizer dos investimentos públicos na Marfrig para compra da SEARA, ou nas transações envolvendo troca da ativos com a BRF?
Uma coisa é se investir em um negócio, trabalhar durante um tempo e, por motivos completamente alheios a sua vontade o negócio não dar retorno, pois todos sabemos que qualquer negócio envolve risco. Mas daí a investir uma quantidade vultuosa de dinheiro em algo para imediatamente fechar o empreendimento, demitindo milhares de trabalhadores? É de se imaginar que esse investidor é louco, pois está rasgando dinheiro! Mas quando esse dinheiro vem de verbas provenientes do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador, como é o caso da maior parte do dinheiro investido pelo BNDES, ai já é um caso tão grave, que deveria requerer uma investigação qualificada por parte das autoridades, porque certamente além de  estar faltando responsabilidade no investimento do dinheiro público, a coisa pode ser bem pior do que isso, podemos ter um caso clássico de monopólio no mercado usando uma empresa como "laranja".  
Nesse caso (Marfrig-SEARA), seria totalmente justificável a criação de uma CPI no Congresso, pois o caso suscita muitas suspeitas que precisam ser esclarecidas pela Direção da Marfrig, BNDES, CADE e pelo Governo Federal sobre a responsabilidade dos investimentos e, inclusive, o por que do dinheiro dos trabalhadores está sendo investido para demitir os próprios trabalhadores. Ao final da investigação não se constatando nada de ilegal ou anti ético, certamente teremos o relato de um dos mais inusitados casos de "ironia do destino", onde um fundo está "desamparando" a quem deveria ser "amparado"!
(*) Vice-Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Pelotas e Coordenador político da sala de apoio da CNTA


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