Artigo por: Luiz Araújo(*)
Com toda sinceridade, quando leio
matérias como essa do Estado de São Paulo, que acabei de postar no Boletim
Informativo da CNTA, sob o título “O governo estuda flexibilizar leis
trabalhistas permitindo redução de jornada e de salários”, sinto-me frustrado, frustrado
porque minha limitada mente de trabalhador tupiniquim não consegue acompanhar o
alcance que as maravilhosas mentes dos sindicalistas metalúrgicos do ABC e de
integrantes do governo Dilma, tão superiores em inteligência, vislumbram como
positivo em um projeto dessa natureza!
Do alto da minha ignorância,
sempre acreditei que muitas leis trabalhistas no mundo, que inspiraram a nossa
CLT, só nasceram, tornaram-se melhores e “generosas” para os trabalhadores em
muitos aspectos, por medo da revolução socialista que se alastrava pelo leste
europeu, afinal ou os empresários concediam um pouco de direitos ao proletariado,
ou corriam o risco de verem os trabalhadores assumirem o poder e isso seria
inaceitável.
Por tanto, agora que esse perigo,
aparentemente, foi superado, me pareceu lógico que a “máscara” de bondade e
generosidade dos empresários pudesse cair, como de fato caiu, tranquilamente! Dessa forma, nada
mais natural para o ocidente capitalista, que os ventos liberais varressem o
mundo, colocando a baixo os direitos dos trabalhadores e mais, que chegassem ao
Brasil, por meio de entidades como CNI, FIESP, FIERGS, etc e encontrassem eco
na grande mídia, sempre disposta a defender com unhas e dentes os interesses
empresariais, que são os seus também, afinal quanto maiores forem os lucros,
mais generosas se tornam as campanhas publicitárias.
O que não me parece lógico é que
um governo dito “dos trabalhadores”, eleito sob a bandeira da “defesa dos
interesses dos trabalhadores” defenda um projeto dessa natureza, muito menos
que dirigentes sindicais de trabalhadores se prestem a um papel, que parece tão
vil, daí eu me sentir tão frustrado pela minha ignorância..
Pode ser que nós, trabalhadores
tupiniquins, tenhamos a mente muito bitolada mesmo, ou talvez seja só eu, será?
Pois pelo menos para mim, todos
os argumentos para justificar que pessoas que, se quer ganham o mínimo que a
lei maior do país define como necessário ao seu sustento e de seus familiares,
passem a ganhar ainda menos e trabalharem ainda mais, é uma desculpa
esfarrapada para justificar uma exploração descarada da classe trabalhadora com
o objetivo de aumentar os lucros empresariais!
Competitividade da economia? É
esse o argumento?
Falando pelo que se vê no ramo da
alimentação, como um exemplo, trabalhadores que recebem um quinto do que ganham
trabalhadores europeus e norte-americanos, fabricam produtos tão bons que se não
fossem legislações protecionistas, as exportações brasileiras bateriam recordes
todos os anos.
Ou eu sou muito burro, ou isso é muito
competitivo economicamente.
Por outro lado, conforme
fartamente noticiado na imprensa, temos vários exemplos de cursos motivacionais,
reuniões de negócios, feiras, palestras e nem sei mais o que, realizados em
hotéis de luxo, com cardápios finos e variados, regados a bebidas e, alguns,
até com direito a acompanhantes tão belas quanto caras, que custam mais em um
dia do que a folha de pagamento de 3 meses de muitas empresas.
Ou eu sou estúpido, ou isso não é
nada competitivo economicamente.
Poderia ficar falando sobre
embarques errados de mercadorias, especulações estúpidas, investimentos errados
e tudo que me parece pouco “competitivo economicamente”, mas estaria falando
bobagens, e peço desculpas. É evidentemente que minha ignorância, deve-se ao
fato de não conhecer os meandros da política econômica, de não ter lido manuais
administrativos ou mesmo conhecer um país de primeiro mundo como a Alemanha, o
que certamente nossas “mentes superiores” sindicais e governistas conheçam, e
saibam bem como e o que esse tipo de acordo tão “moderno” pode oferecer em
termos de benefícios aos trabalhadores de lá, que a legislação arcaica e
ultrapassada do Brasil não permite a nós, trabalhadores tupiniquins, desfrutar!
Não posso falar por todos os
trabalhadores é claro, pois além de burro e atrasado eu seria pretensioso
também, mas para que não digam que eu sou intransigente, vamos fazer o
seguinte: O dia que os trabalhadores brasileiros tiverem saúde pública,
segurança, educação e lazer com a mesma qualidade da Alemanha e ganharem o
mesmo salário dos trabalhadores alemães, eu vou ser o primeiro a pedir a
reforma da CLT e assinar o tal acordo.
Se isso não servir? Bem, posso
também fazer uma campanha entre os trabalhadores, ou popularmente como nós
tupiniquins costumamos chamar “fazer uma vaquinha” e arrumar o dinheiro da
passagem para que nossas “mentes brilhantes” enfiem seus maravilhosos projetos
no “bolso”, se mudem para a Alemanha e vivam felizes e modernos por lá!
(*) Coordenador Administrativo da
sala de apoio da CNTA aos sindicatos da região sul!
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