segunda-feira, 24 de setembro de 2012

MENTES SUPERIORES E OS TRABALHADORES TUPINIQUINS!


Artigo por: Luiz Araújo(*)

Com toda sinceridade, quando leio matérias como essa do Estado de São Paulo, que acabei de postar no Boletim Informativo da CNTA, sob o título “O governo estuda flexibilizar leis trabalhistas permitindo redução de jornada e de salários”, sinto-me frustrado, frustrado porque minha limitada mente de trabalhador tupiniquim não consegue acompanhar o alcance que as maravilhosas mentes dos sindicalistas metalúrgicos do ABC e de integrantes do governo Dilma, tão superiores em inteligência, vislumbram como positivo em um projeto dessa natureza!
Do alto da minha ignorância, sempre acreditei que muitas leis trabalhistas no mundo, que inspiraram a nossa CLT, só nasceram, tornaram-se melhores e “generosas” para os trabalhadores em muitos aspectos, por medo da revolução socialista que se alastrava pelo leste europeu, afinal ou os empresários concediam um pouco de direitos ao proletariado, ou corriam o risco de verem os trabalhadores assumirem o poder e isso seria inaceitável.
 Por tanto, agora que esse perigo, aparentemente, foi superado, me pareceu lógico que a “máscara” de bondade e generosidade dos empresários pudesse cair, como de fato caiu, tranquilamente! Dessa forma, nada mais natural para o ocidente capitalista, que os ventos liberais varressem o mundo, colocando a baixo os direitos dos trabalhadores e mais, que chegassem ao Brasil, por meio de entidades como CNI, FIESP, FIERGS, etc e encontrassem eco na grande mídia, sempre disposta a defender com unhas e dentes os interesses empresariais, que são os seus também, afinal quanto maiores forem os lucros, mais generosas se tornam as campanhas publicitárias.
O que não me parece lógico é que um governo dito “dos trabalhadores”, eleito sob a bandeira da “defesa dos interesses dos trabalhadores” defenda um projeto dessa natureza, muito menos que dirigentes sindicais de trabalhadores se prestem a um papel, que parece tão vil, daí eu me sentir tão frustrado pela minha ignorância..
Pode ser que nós, trabalhadores tupiniquins, tenhamos a mente muito bitolada mesmo, ou talvez seja só eu, será?
Pois pelo menos para mim, todos os argumentos para justificar que pessoas que, se quer ganham o mínimo que a lei maior do país define como necessário ao seu sustento e de seus familiares, passem a ganhar ainda menos e trabalharem ainda mais, é uma desculpa esfarrapada para justificar uma exploração descarada da classe trabalhadora com o objetivo de aumentar os lucros empresariais!
Competitividade da economia? É esse o argumento?
Falando pelo que se vê no ramo da alimentação, como um exemplo, trabalhadores que recebem um quinto do que ganham trabalhadores europeus e norte-americanos, fabricam produtos tão bons que se não fossem legislações protecionistas, as exportações brasileiras bateriam recordes todos os anos.
Ou eu sou muito burro, ou isso é muito competitivo economicamente.
Por outro lado, conforme fartamente noticiado na imprensa, temos vários exemplos de cursos motivacionais, reuniões de negócios, feiras, palestras e nem sei mais o que, realizados em hotéis de luxo, com cardápios finos e variados, regados a bebidas e, alguns, até com direito a acompanhantes tão belas quanto caras, que custam mais em um dia do que a folha de pagamento de 3 meses de muitas empresas.
Ou eu sou estúpido, ou isso não é nada competitivo economicamente.
Poderia ficar falando sobre embarques errados de mercadorias, especulações estúpidas, investimentos errados e tudo que me parece pouco “competitivo economicamente”, mas estaria falando bobagens, e peço desculpas. É evidentemente que minha ignorância, deve-se ao fato de não conhecer os meandros da política econômica, de não ter lido manuais administrativos ou mesmo conhecer um país de primeiro mundo como a Alemanha, o que certamente nossas “mentes superiores” sindicais e governistas conheçam, e saibam bem como e o que esse tipo de acordo tão “moderno” pode oferecer em termos de benefícios aos trabalhadores de lá, que a legislação arcaica e ultrapassada do Brasil não permite a nós, trabalhadores tupiniquins, desfrutar!
Não posso falar por todos os trabalhadores é claro, pois além de burro e atrasado eu seria pretensioso também, mas para que não digam que eu sou intransigente, vamos fazer o seguinte: O dia que os trabalhadores brasileiros tiverem saúde pública, segurança, educação e lazer com a mesma qualidade da Alemanha e ganharem o mesmo salário dos trabalhadores alemães, eu vou ser o primeiro a pedir a reforma da CLT e assinar o tal acordo.
Se isso não servir? Bem, posso também fazer uma campanha entre os trabalhadores, ou popularmente como nós tupiniquins costumamos chamar “fazer uma vaquinha” e arrumar o dinheiro da passagem para que nossas “mentes brilhantes” enfiem seus maravilhosos projetos no “bolso”, se mudem para a Alemanha e vivam felizes e modernos por lá!
(*) Coordenador Administrativo da sala de apoio da CNTA aos sindicatos da região sul!

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