"Ganância" é o que mantém
trabalho precário nos frigoríficos
Presidente da
Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins
(CNTA) diz que evolução econômica do setor se dá a custa da perda de saúde dos
trabalhadores. Categoria poderá retomar mobilização nacional por aumento
salarial e regulamentação específica, que há mais de um ano é discutida no MTE
Em busca de direitos específicos que atendam às necessidades
peculiares do setor frigorífico, tido como um dos principais causadores de
acidentes e doenças ocupacionais do país, a
Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e
Afins (CNTA) poderá decidir, na 3ª
Conferência da CNTA (dia 30 de novembro), pela retomada da mobilização
nacional as negociações com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Governo, patrões e empregados voltam a discutir a criação da Norma
Regulamentadora dos Frigoríficos na próxima
terça (30/10), na Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE).
Há mais de um ano no MTE, a NR dos Frigoríficos está longe de um
consenso, sobretudo, no que diz respeito à concessão de pausas. Na pauta do
sétimo encontro do Grupo Tripartite de Trabalho está a definição dos prazos de
duração dos intervalos para pausas térmicas e ergonômicas. Proposta da bancada
trabalhista, que inclui pausas com duração de 10
minutos a cada 50 minutos de trabalho, foi rejeitada pelas empresas no
último encontro. Trabalhadores também exigem intervalos de 20 minutos a cada 3
horas para alimentação, a redução da jornada de trabalho de 7h20 para 6h diárias,
e a proibição de banco de horas, já que a maioria dos trabalhadores chega a
enfrentar uma jornada de até 10 horas diárias.
Para Artur Bueno de Camargo, presidente da CNTA, a iniciativa implicará
na redução de danos físicos e psíquicos enfrentados por mais de meio milhão de
trabalhadores expostos a atividades penosas e ritmos excessivos de trabalho do
setor. Segundo Bueno, apesar de as empresas investirem constantemente na
automação das atividades em frigoríficos, as condições de trabalho continuam
sendo incompatíveis com a saúde dos trabalhadores. Reportagem recente do
programa Repórter Record, da Rede Record, denunciou as más condições de
trabalho nos três principais frigoríficos do país, com relatos de trabalhadores
que realizam até 80 movimentos repetitivos por minuto.
"Isso continua porque as empresas não conseguiram diminuir a
ganância. É preciso investir em condições mais humanas de trabalho, com ritmos
menos acelerados e com direito a pausas que atendam às necessidades dos
trabalhadores, principalmente nos abatedores de avícolas. Pensar em prejuízos
no momento não procede, pois se o trabalhador tiver mais saúde para trabalhar,
ele vai ter uma vida útil mais longa e, com isto, a empresa vai ter sempre um
profissional treinado sem a necessidade de substituição como acontece
atualmente com a alta rotatividade no setor", avalia.
Evolução à custa da perda de
saúde dos trabalhadores
Referência mundial na produção de
carne, as condições de trabalho nos frigoríficos ainda contrastam com os
valores bilionários que o setor movimenta. Só em 2011, o Brasil exportou o
equivalente a 30 bilhões de reais em carne, com a geração de mais de 750 mil empregos, segundo reportagem da
Record, que tomou como base denúncia da ONG Repórter Brasil. Insatisfeitos com o salário-base da categoria, os
trabalhadores lutam ainda pelo piso nacional de R$ 1.200,00 , já que o valor na
folha de pagamento nas diferentes regiões varia entre R$ 816,87 e R$ 1.150,83,
de acordo com dados do Dieese de 2010.
"Infelizmente essa evolução se dá à custa da perda de saúde dos
trabalhadores no Brasil. Para reverter essa situação, é preciso um esforço
maior do governo ao estabelecer alguns critérios, por exemplo, com a concessão
de financiamentos pelo BNDES, que deveria exigir uma contrapartida das empresas
no sentido de oferecer melhores condições de trabalho.", afirma o
presidente da CNTA, que pretende retomar as negociações com a CNI, iniciadas em
setembro 2011 e paralisadas durante as negociações para a criação da NR dos
Frigoríficos.
"Estamos com a esperança de que essa NR possa melhorar as
condições de trabalho nos frigoríficos, mas se isso não acontecer, iremos sair
por esse Brasil afora mobilizando os trabalhadores para buscarmos condições
mais humanas de trabalho para esse setor. Trata-se, inclusive, de um problema
social, já que esses trabalhadores acabam se afastando pelo INSS e quem paga é
a sociedade. O governo poderia pensar nisso ao facilitar esses financiamentos
para os frigoríficos. Mas o problema é que como o governo é acionista desse
setor, então fica difícil fazer com que eles tenham uma posição mais severa com
os empresários.", pondera Artur.
Assessoria de imprensa da CNTA
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