A apresentação do relatório final das pesquisas realizadas em quatro Cidades do Rio Grande do Sul (Alegrete, Bagé, Pelotas e São Gabriel), envolvendo trabalhadores do setor frigorífico, cujo conteúdo faz parte do Projeto T.E.I.A.S. - Tecendo Estratégias Integradas em Saúde, apontam para um quadro de agravamento das doenças ocupacionais e piora nas condições de trabalho.
Segundo o professor Paulo Albuquerque da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, responsável pela pesquisa, em um comparativo com os dados coletados em outra pesquisa realizada no mesmo setor em 2007, os problemas de doenças que tem resultado no afastamento e aposentadoria precoce de trabalhadores por invalides, resultado de quadros irreversíveis, mutilações ou mortes cresceu, em média 30%.
Para Albuquerque, o quadro é alarmante e todos os indicativos demonstram que, caso não haja um esforço integrado da sociedade, pagaremos um preço muito alto. - Durante as pesquisas, nos deparamos com depoimentos de pessoas adoecidas psicológica e fisicamente, vivendo um dilema entre a necessidade de sobrevivência e sua luta para manter o emprego, a lenta agonia de tentar driblar a dor causada pelo trabalho até o processo depressivo de se sentir inútil por ser excluído do processo produtivo por causa da doença - declarou Paulo Albuquerque.
Francesco Settineri, pesquisador da equipe do professor Paulo, fez um relato do que ele considerou "Um filme de Horror", baseado em dados similares de trabalhos realizados em áreas de frigoríficos em outros países, como os Estados Unidos, onde segundo ele, existem relatos de um quadro ainda mais grave que o brasileiro. - Nos EUA, o problema demorou mais a ser detectado pois a maioria dos trabalhadores desse setor não são americanos, mas sim imigrantes ilegais, preferencialmente latinos e negros, que se submetem as más condições e se calam quanto as suas conseqüências por medo de serem deportados. Segundo dados que estão disponíveis na internet, o número de mortes no setor frigorífico americano, segundo a ONG Human Righs Watch, por ano, chega a 60 mil. Se levarmos em consideração apenas os acidentes fatais, foram registratos 5.840, o que faz dessa indústria a campeã de acidentes - afirmou Francesco.
O Presidente da CNTA - Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins, Arthur Bueno de Camargo, parabenizou os Sindicatos e a UFRGS envolvidos na pesquisa e demonstrou indignação com os dados apresentados. - Não dá mais para nos calarmos diante desse quadro brutal, precisamos denunciar as autoridades nacionais e internacionais, além de promovermos ações concretas para que a sociedade brasileira tenha conhecimento dessa verdadeira barbárie.
Segundo Arthur, sem um grande movimento que obrigue as autoridades a tomar providências, os detentores do poder econômico seguirão ignorando e mascarando os problemas causados pela maneira como o setor produtivo está organizado, com exigências de rapidez na produção cada vez maior, jornadas de trabalho excessivas e redução de quadro funcional. - Não temos dúvida que medidas como redução de jornada de trabalho, controle de velocidade de máquinas e de produção e um número de funcionários compatíveis com a função a ser desempenhada diminuiria sobremaneira muitos desses problemas, mas os empresários não tomarão providencias a menos que a sociedade e as autoridades façam uma grande pressão - afirmou Arthur.
Na apresentação esteve presente Paulo Becker, da acessoria do Deputado Nelsinho Metalúrgico, da Bancada do PT, que recebeu os dados da pesquisa. Segundo Paulo Becker, o Deputado Nelson tem seu trabalho voltado a luta dos trabalhadores e pretende encampar essa luta ao lado dos trabalhadores da alimentação.
Ao final da apresentação, o coordenador da sala de apoio da CNTA para a região sul, Darci Pires da Rocha, exaltou o trabalho da UFRGS, dos Sindicatos envolvidos e da CNTA - Esse trabalho é um primeiro passo, temos os dados e agora é trabalharmos junto as autoridades, junto a sociedade para mudarmos essa realidade - declarou Darci.
Por: Luiz Araújo