ARTUR BUENO DE CAMARGO (*)
O Congresso Nacional foi consumido, desde a reabertura dos trabalhos legislativos, com o debate sobre o reajuste do salário mínimo.
Tive a oportunidade de acompanhar de perto toda essa discussão e a votação da proposta de reajuste do mínimo tanto na Câmara dos Deputados como, também, no Senado Federal.
De um lado, os partidos da base de sustentação do governo perfilaram-se na defesa da proposta do Executivo que eleva o mínimo para R$ 545,00. De outro, os parlamantares que se dizem de oposição saíram na sustentação de valores que variam de R$ 560,00 – como também queriam as centrais sindicais - a R$ 600,00.
Até ai nenhuma novidade. Mas o mais surpreendente foram as contradições que permearam a discussão. Os governistas pregaram a necessidade de se agir com responsabilidade e defendiam o cumprimento do acordo celebrado entre o governo as centrais sindicais. Alertavam para o fato de que um aumento superior a R$ 545,00 poderia causar inflação e argumentavam que, durante os oito anos do governo Lula, o mínimo teve uma valorização real de quase 60%.
Os oposicionistas argumentavam, por sua vez, que é perfeitamente possível um reajuste maior diante das perspectivas de crescimento do País e perguntavam, quase sempre em tom de ironia: o PT não é o partido dos trabalhadores? Porque, então, essa atitude contrária, no fundo, aos interesses dos próprios trabalhadores? Como não participei de nenhum acordo com o governo, muito menos a entidade que presido, a CNTA, que não é filiada a nenhuma central, fiquei muito a vontade para defender uma política de recuperação do valor do salário mínimo para o patamar sustentado historicamente pelo DIEESE, que é de R$ 2.194,76.
Mas, de todas as contradições, talvez a mais gritante delas tenha sido a afirmação de que um aumento superior a R$ 545,00 causaria inflação e o país não suportaria. Os parlamentares que defenderam essa tese foram os mesmos, paradoxalmente, que aprovaram no final do ano passado um reajuste de 60% em seus próprios salários, sem nenhum debate e preocupação com a repercussão desse fato na sociedade brasileira.
(*) Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação (CNTA) e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Limeira.
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